Lu et approuvé.
M. Horta

Depoimentos, casos, tentativas de escrita...

terça-feira, 31 de maio de 2011

Um novo tempo...

A partir de amanhã não tenho mais internet em casa.
AFF!
A partir de amanhã meu passe navigo não me permite mais me deslocar de metrô em Paris.
AFF!
A partir de amanhã completo quatro meses em Paris.
UFA!
A partir de depois, de depois de amanhã, eu estou completamente de férias da escola.
EBA!
E a partir de depois de depois de amanhã minha mãe chega.
EBA! EBA!

Agora não vou esscrever muito mais... eu acho... grandes postagens, como as outras... e sim talvez um pouco de cada cidade, de cada lugar que eu passar nos próximos dois meses antes de voltar casa...
Vou também tentar escrever num diário à mão e depois digito para colocar aqui... São os planos...
Os planos são muitos... As expectativas também...
Viagens de trem, de avião, de ônibus, a pé...
Hospedagens diversas...
Lugares diversos...
Gentes diversas tb... rs.

Um novo tempo...
Novas asas... Novos vôos...
Novas línguas, novos mundos...
Velhos mundos...

Ainda não enviei as cartas que escrevi para mandar para o Brasil...
Não deu tempo... e penso em deixar para levar comigo...

O frio vem de repente... invade as ruas e depois segue seu caminho... espero não cruzar com ele muito por aí... nós não nos damos muito bem mesmo... é verdade...

Comprei mais um pote de Nutella... Agora faço crepe em casa... tudo começou com a ideia da Ana, amiga da Bárbara , e eu adorei... Já penso em levar para o Brasil, com certeza faremos sessões de crepes para família e amigos...

Como completo 4 meses?
Vixi... quase louco corendo contra o tempo para aproveitar o máximo e também descansando o máximo porque vai ser uma verdadeira maratona todas as viagens que vem por aí...

Bom... ainda antes de meia-noite eu venho escrever de novo para aproveitar...

Vou tirar um cochilo de depois do almoço, coisa que quase nunca faço aqui...

domingo, 29 de maio de 2011

E eu que sempre acho que sei os caminhos...

O domingo pedia uma aventura, uma caminhada, um treino de resistência para o Caminho de Santiago de Compostela, talvez...
O sol quente, o céu azul... almoço e enquanto me repouso no pós-almoço tenho um insight:
vou até a torre eiffel a pé!!! Genial...

A Torre Eiffel fica do lado do Sena... o Sena passa a 10 minutos da minha casa... pensei?
Vou seguir o curso do rio e chego lá... ainda olhei no google para saber a distância e o percuso... 10 km... perfeito...

Saí de casa... e quando cheguei na margem do rio, nem pensei para que lado deveria ir... achei que era óbvio, como sempre acho... tenho sempre certeza dos caminhos...
depois de quase duas horas de caminhada, resolvo olhar me mapa do metrô onde aparece o contorno do rio e pá... estava errado... eu tinha que ter ido para o outro lado...

Objetivo não cumprido...
Agora espero fazer o trajeto certo amanhã ou depois... veremos...

Mas não era só isso que eu queria dizer...

Eu sempre acho que sei os caminhos... e sempre (ou quase) estou errado... Paris ainda faz muitas armadilhas... já consigo me orientar bastante, mas com certeza ainda vou ficar perdido por aí...

achei nulle essa postagem... mais c'est pas grave...
de qualquer forma, se isso é pra ser um diário... escrevi mais uma página de um dos últimos finais de semana em Paris... putz... é verdade... já começo a contar os dias... mesmo estando a pouco mais de dois meses da volta...

sábado, 28 de maio de 2011

Asas.

Ele tinha umas asas nas costas.
Ainda pequenas. Tímidas. Os olhos olhavam sempre pro alto, sonhando com o dia em que alcançaria as nuvens... em que passearia mais perto das estrelas... em que se encontraria com a lua para ver os buracos e descobrir assim a presença ou ausência do dragão...
Ele tinha asas nas costas.
Asas brancas, de finas penas, com a textura da seda e o brilho do ouro. Asas que cresciam com o passar dos dias, que se mexiam com ternura e ventilavam com doçura ao redor. Asas que brilhavam no sol e no escuro, que se sacudiam após o banho encharcando todo o banheiro.
Ele tinha asas nas costas.
O tamanho das asas lhe dava a sensação de que chegara o dia de se aventurar pelos céus. As asas ocupavam mais espaço dentro de casa... encharcavam ainda mais o banheiro e se encolhiam um pouco para passar nas portas... Asas de amadurecimento, de tempo que passa e de objetivos construídos...
Ele tinha asas abertas.
Que se mexiam coordenadamente num vai e vém mais ou menos rápido, empurrando o ar para se manter nos céus... e que as vezes se abriam com toda a sua amplitude para pairar no céu e viajar pelas nuvens... as nuvens brancas, gotículas refrescantes num bom tempo de primavera de cores...
O universo sorria a cada giro, a cada pirueta que ele dava no ar... As flores sorriam, as folhas gargalhavam... o vento brincava, desafiava, dava as emoções necessárias para a aventura continuar... era o mundo do céu agora... o mundo sem os pés na terra... o mundo suspenso...
Eles tinham asas nas costas.
Todos. Porque ele não era o único que pairava no azul.
E depois vinha o tempo em que os pés sentiam também a falta da terra. E o tempo em que era preciso descansar as asas. E depois o tempo em que era preciso voltar a terra. Tocar os pés no chão, como naquela época de asas pequenas. Seria preciso deixar as nuvens e o azul... por um tempo... porque não se pode viver nos céus o tempo todo...
Ele tinha asas nas costas.
Asas descansadas prestes à alçar vôo de novo... essas asas que também chamamos sonhos...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

As contradições.


"En ce temps-là, Paris était une ville qui correspondait à mes battiments de coeur. Ma vie ne pouvait s'inscrire autre part que dans ses rues. Il me suffisait de me promener tout seul, au hasard, dans Paris et j'étais heureux."

São um pouco, ou completamente contraditórias a frase de cima e a frase da foto que já publiquei aqui alguma vez...

Mas a contradição é realmente presente o tempo todo entre o novo de agora e o que ficou pra trás...

Mas é contraditório também que nesse momento no qual caminhar pelas ruas de Paris já basta eu acho um trabalho de "teleopinião" pra fazer... ça veut dire... ligar para o Brasil para fazer "uma pesquisa de opinião sobre rações super prêmios para cães e gatos" ...

E aquele fone de ouvido que aperta os ouvidos... e o macarrão que eu como quando eu chego, já quase meia-noite invento de jantar...

A noite cai às 21h40, mais ou menos...
O calor e o frio convivem desordenadamente...

As pessoas são simpaticas... as pessoas são chaaaatas... começo desede já a campanha: "Sejamos sempre muito educados com as pessoas de telemarketing porque eles não tem culpa de estar ali te telefonando"... seja por viajar pela Europa em julho ou para pagar as suas contas no fim do mês do outro lado da linha tem um ser humano que vive, sente e que mesmo que você não ligue, é meio impossível de distanciar quando alguém te trata muito mal...

Eu em viagem à Paris também é fazer esse trabalho inédito... rotinas de 8h... cálculo do tempo... da pausa... metas... rs... felizmente ou infelizmente é só essa semana ou no máximo no início da outra... esporádico assim...

E se eu dissesse que depois de um dia de trabalho tenho vontade de dançar quando chego em casa?

O passe Navigo, o RER, o A e o D, a Royal Canin, o Train, Gare de Lyon, La Défense, Saint-Cloud... Maisons Alfort, Saint-Germain en Laye, Bossy, ROVO, ZEUS, St-Nom-la-Bréteche, La Verrière... Partes de um cotidiano parisiense...

E o avental, o lixo laranja, a bandeira do Brasil, os desenhos na parede, os cartões postais, a agenda, o caderno, a caneta, a "cesta" de frutas, as placas do "fogão", a água quente, os livros, a garrafa d'água, a bota, as meias, a chave, o chaveiro do Brasil, o 330, a cortina vermelha, o edredon branco, os roteiros de viagem... e eu... e meu quarto... e a residência de saint-cloud... e paris... e île-de-france... e a França... e Europa... E o hemisfério norte... E o mundo... E o espaço... E o sistema solar... E a galáxia... e ...


sábado, 14 de maio de 2011

É preciso que se fale de teatro...

Paris tem um número enorme de espetáculos por noite...
Quase todos com bom público até onde eu sei... E espetáculos de todos os tipos, internacionais, nacionais, contemporâneos, clássicos, musicais, pastelões e afins...

Acabo de chegar da "Comédie-Française"! Fui assistir sem muito prever antes "Un tramway nommé désir"("Um trem chamado desejo" de Tennesse Williams) a primeira peça em 330 anos de Comédie-Française que não é de um autor francês...
Mas isso é só uma curiosidade... Desde 1680 a Comédie-Française constrói e mantém um repertório de espetáculos, com textos franceses, que são realizados durante o ano todo...

Esse é um pequeno exemplo clássico de um dos muitos lugares em que se pode assistir espetáculos em Paris... Vale notar que em todos os espetáculos que já fui até hoje, acho que contabilizo 7 exatamente, tinham um bom público ou estavam esgotados... e infelizmente, esgotaram "Fin de partie" de Beckett e "Rhinocéros" de Ionesco e então não pude ver... C'est dommage !

Mas enfim... as pessoas vão ao teatro... e muito...
Dá gosto de ver...

É cultura? Costume? Situação econômica? Ou tudo junto?

A publicidade demonstra bem que teatro aqui é negócio também e os investimentos são realmente feitos tanto em divulgação quanto em cenários, figurinos, encenação em si, porque eles sabem que o retorno virá...

E nós? Investimos também? Como investir? Sabemos se teremos público para ir ao teatro nos assistir em Belo Horizonte?

Eu sinceramente não sei...
Como mudar a situação também não sei...

É claro que comparar Paris e Belo Horizonte é um pouco demais da minha parte, mas sinto que é preciso fazê-lo querendo ou não... não sei a realidade de São Paulo, nem do Rio... mas pra gente, não acho a coisa muito boa...

Mas é em tudo também, é claro... quantos anos Paris existe, quantos anos Belo Horizonte existe... mas falta tudo... coisas básicas... as preocupações aqui são outras... o discurso político se preocupa com outras coisas é claro, com a energia nuclear por exemplo... para passar toda a essa energia para uma energia mais limpa... enfim... com a melhoria a cada dia do transporte público que já é infinitamente melhor do que o nosso... como uma cidade como Belo Horizonte não tem um metrô? Esse trenzinho que tem aí não é metrô, de verdade... eu achava que era, mas vi que metrô é bem diferente disso... enfim... penso no futuro também agora... como lidar com isso aí vendo de uma outra forma e o que fazer pra tentar mudar alguma coisa?

E falemos ainda um pouco mais de teatro...
No jornal hoje que ganhei na porta da Comédie-Française uma frase escrita na capa do jornal ficou martelando um pouco na minha cabeça:

"La culture est une résistance à la distraction" (Pasolini) - "A cultura é uma resistência à distração".

Voilà !
Lembrei com essa frase que as pessoas leêm muito aqui... Muito... no metrô a todo momento... lançamento de livros de um autor é motivo de vários cartazes publicitários... Livros aqui são muito baratos... tem uma coleção de vários livros de bolso, novos, por 2 euros cada... e na mesma coleção outros títulos à no máximo 6 euros...
Quase toda família francesa tem uma verdadeira biblioteca particular... distração ou resistência à distração? resistência, eu acho...

Por enquanto só ficam as perguntas... mas eu não brinco de fazer teatro...
Sempre que eu falo que eu sou ator ou as pessoas dizem que adoram teatro mas nunca vão ou elas pensam se eu vou pra Globo... normal... mas seria isso sintoma de alguma coisa?

Ser ator "de teatro" é o que afinal?
É bonito?
É legal?
É uma loucura?
É uma aventura?
É digno?
É curioso?
...
É o quê, hein?

E teatro? É o que mesmo?






As rosas não falam...


Que perfume...
Não esse perfume que estamos acostumados... um perfume francês natural no seio das rosas...
Elas agora reinam... São grandes roseiras repletas de rosas, de pétalas, de perfumes...

Não sei se pela primavera, os franceses estão, no geral, mais sociáveis... alguns são sempre, outros são sempre distantes... na verdade, acho sempre melhor guardar uma distância, já que os costumes são outros... abraçar alguém que você não tem muita intimidade é um problema... o beijo no rosto também não pode ser um beijo de verdade... é mais aquela coisa de bochecha mesmo...

Mas não era bem isso que eu queria dizer...
O fato é que o tempo continua passando rápido e sinto que vou escrever isso aqui em todas as próximas postagens... Acontece que a partir do momento em que se fixa uma data, essa data aproxima com um velocidade incrível... óbvio... mas rápido demais...

Posso ainda fazer uma lista grande com todos os lugares que ainda não fui... em Paris mesmo... decidi voltar a ser turista o quanto antes, mas os compromissos com o término da faculdade impedem uma dedicação exclusiva...

Faço o que posso... O que não dá é pra ficar em casa mesmo... mas aí se gasta mais dinheiro e esse também acaba rápido... rápido demais por sinal...



Lembro da minha Vó e do meu Vô com seus jardins...

Me acho sem inspiração pra escrever alguma coisa que preste.

Hoje faz sol, com muitas nuvens... são 11:41 da manhã e ainda não terminei o meu trabalho para o M. Ryngaert.
Esse é o último semestre dele de curso, ele aposenta e dei muita sorte de ter aula com ele nesse semestre. Afinal, não é sempre que você pode ter aula com o autor de vários livros da bibliografia de várias disciplinas que você já fez... Mas também não é nada fácil fazer a análise dos textos propostos, ainda mais em francês...

De tudo fica a notícia de que comprei mais livros e dentre ele achei um livro sensacional sobre vinhos... se chama "Le vin" e custou apenas 3 euros... como livro é barato por aqui... rs...

Mas é sempre bom lembrar que mesmo em Paris as rosas não falam... o que não impede que eu fale com elas... rs...


quarta-feira, 11 de maio de 2011

É campeão ou o que faltava de teatro... (Conexão Nancy)

O tempo está muito corrido para escrever nesse blog.
Mesmo com meu trabalho custoso para entregar na semana que vem, me permito uma pausa para escrever algumas palavras sobre o final de semana, ou melhor dos quatro dias de 05 à 08 de maio que estive em Nancy para "Le semaine de l'impro" produzida pela "Companhia Crache-Texte" e que tive o prazer de participar como ator/jogador/improvisador.

Nancy é uma cidade pequena, numa região da França que se chama "Lorraine" e de onde vem o nome de um prato típico francês a "Quiche Lorraine". Tem vários tipos de quiche e a Lorraine é com bacon. Basicamente é um torta de queijo com bacon, se é que podemos resumir tão simplesmente assim um prato francês. Não podia deixar de comer uma quiche lorraine em plena lorraine e foi exatamente o que fiz... mas não só...

"La semaine de l'impro" estava na sua quarta edição e pela primeira vez o festival realizaria a "Copa da Europa de Improvisação Teatral". A partir de um contato que sai do Brasil, passa pelo México e chega em Nancy, sou chamado para ocupar uma vaga no time da Espanha. Depois de algumas dúvidas sobre o time defendemos a bandeira amarela e vermelha eu (brasileiro), Omar Argentino (Argentino e grande referência na Impro, uma honra conhecê-lo e jogar com ele), Raquel (espanhola) e Dani (também espanhol), os dois últimos também com bem mais experiência na Impro que eu e também uma honra jogar com eles...

Para não entrar muito em detalhes basta dizer que por sorte, destino ou sei lá o quê, eu estava no lugar certo, na hora certa em que as pessoas certas se encontrariam para preparar o espetáculo de quinta a noite. "Carte Blanche para Fábio Maccioni", ou seja, carta branca para o Fábio fazer o que quisesse. Os convites para fazer o espetáculo tinham sido feitos previamente por quem o Fábio conhecia, e ainda não nos conhecíamos. Se encontram então Fábio (italiano), Maja (Alemã), Raquel (Espanhola), Lieselotte (holandesa), Ralph (inglês), Omar (Argentino) e Fayssal (Francês). Acabei caindo no meio deles e por gentileza me perguntaram se eu queria fazer o espetáculo. Eu disse que adoraria e em pouco depois estavam ensaiando juntos o espetáculo que aconteceria 2 horas depois. Assim foi o espetáculo: improvisamos, em um long form cheio de imagens e poesia, histórias sobre a "Neve" (tema dado pelo público) e cada um falava em sua língua materna... Foi uma delícia fazer o espetáculo e receber a ótima recepção do público.

Na sexta, saí cedo para conhecer a cidade... Como disse não uma grande cidade e também não tem muitos pontos turísticos... mas valeu a pena conhecer a Place Stanislas e o Parc Perpinière... No parque vários animais, sobretudo aves, e o presente de ver um pavão com suas pena todas abertas saudando o sol da manhã... Além disso, igrejas, ruas de uma cidade da Lorraine.

Na sexta de noite, participei do espetáculo "La nuit des fous" (A noite dos loucos) onde improvisaríamos sem hora para acabar o espetáculo... Teve música, vídeo, dança, teatro, marionetes e etc... Começamos o espetáculos às 22h e fomos acabar lá pras 03h... com um intervalo no meio...

Sábado começa o Match de Improvisação com 08 equipes européias, a saber: França, Luxemburgo, Países baixos, Espanha, Suiça, Itália, Bélgica e Nancy. Terminamos a primeira fase em primeiro da chave.
No domingo a tarde jogamos a semi-final com a Itália.
No domingo a noite jogamos a final contra a França. Numa partida super apertada, empatada em 4 a 4 e com uma cena desempate, acabamos levamos o campeonato para a Espanha. E eu e Omar para a América do Sul, querendo ou não...

Além disso, tive direito ao primeiro programa de rádio da vida... em francês e improvisando... infelizmente foi super corrido... mas de qualquer forma foi bem divertido...

Já estava com muita falta de improvisar, sobretudo com público... e foi sensacional...
Oportunidade única na vida!!!

Bom, eu poderia falar ainda mais coisas... já o trabalho para o M. Ryngaert me pede para dar atenção para ele...

domingo, 1 de maio de 2011

Eu alaguei meu quarto! (Comemoração 3 meses...)

Ah... por onde começar? Me pergunto... vamos lá... voltemos alguns dias atrás...

Antes de sexta-feira (29/04) eu sonhei que estava na rua de uma cidade que eu não conhecia, acho que em Portugal. O rio da cidade começou a encher e a transbordar e eu vi com muita clareza, e a imagem é viva na minha cabeça ainda, a água que entrava e escorria aos poucos para dentro de uma casa... ia entrando, assim... e eu saí dali correndo.

Sábado. Ontem, dia 30/04, ainda de manhã, depois de utilizar o banheiro para o xixi matinal, vou dar descarga pela segunda vez por outro motivo que já não me recordo (é verdade, não lembro porque, mas não foi porque eu fiz nº 2) e a descarga não funcionou... Pensei que era questão de tempo, mas no decorrer do dia ela também não funcionou e está até agora estragada... Comecei, desde então, a encher o balde com o chuveiro (que é um chuveiro móvel) e a jogar na privada para fazer descer as necessidades e os papéis (que aqui se deve jogar na privada, nada de lixo com papel de banheiro)... Achei meio chato esse negócio de ter que encher o balde sempre e pensei que eu poderia deixar o balde já cheio para facilitar... E assim venho fazendo... até essa noite de domingo...

Cheguei em casa por volta das 20h, hoje, depois de ter ido na casa da Graça* ensaiar um pouco para as apresentações que acontecerão no Festival "Parfums de Lisbonne" promovido pela companhia "Cá e Lá" e que estou fazendo parte nesse semestre. Cheguei, comi alguma coisa, tomei banho e fui preparar o jantar... coloquei água pra ferver para fazer um macarrão (tinha frango com brócolis pronto e eu só ia juntar com o macarrão e colocar um queijo fondue pra variar... sempre coloco esse queijo em tudo agora...). Assim fiz... Depois de colocar a água fiz o nº1 e o balde estava vazio. Coloquei para encher, joguei na privada e pensei: "Vou colocar para encher de novo, para facilitar depois..." E assim fiz...

Esqueci de dizer que no sábado de manhã eu lavei roupa... e que a secadora de roupa não seca a roupa completamente... e que, portanto, saio espalhando roupas pelo apartamento todo para poder secar... eu tinha colocado as meias e as cuecas pra terminar de secar no banheiro...

Assim que, depois que coloquei o balde para começar a encher eu olhei pro lado e vi as cuecas... e as meias... e estava tudo seco... peguei tudo e fui guardar... olhei pra minha câmera de tirar foto e pensei... amanhã vou usar a câmera e ela está acabando a bateria... então vou colocar filmando à toa para acabar com a bateria...

Me esqueci de dizer também que eu ouvia a trilha sonora de "Grease"... A primeira música tocou, eu guardava as cuecas... fui começar a guardar as meias... passei pra máquina de tirar foto... e tocava agora "Summer nights"... ouço então o barulho da água do macarrão que fervia... pensei: "Vou colocar o macarrão"... e nesse momento me desloco dançante até a pequena cozinha... e quando aí chego piso numa poça d'água... faço uma exclamação que iria se repetir por algum tempo... "_Shit!" Tento saber a origem da água, bem confuso, e vejo o banheiro todo alagado, a água transbordando do balde, a água saindo do banheiro e indo pro resto do quarto... passando pela cozinha e seguindo... "Pânico"... Inacreditável... Desliguei o chuveiro... e comecei a tirar as coisas do chão... papel higiênico, bolsa com perfume, aparelho de barbear e afins... a roupa suja no canto, dentro de uma sacola... e a toalha suja embaixo da sacola já encharcada... muita água...

Detalhe: o banheiro aqui não tem ralo... a não ser dentro da parte de tomar banho que fica uns 20 cm acima do nível do banheiro... ou seja, a água não tinha lugar para escoar...

Começo a jogar toalha, panos de chão e afins... Tamy chega na minha casa para olhar uma coisa de uma trabalho dela sobre Boal... a vizinha abre a porta ao mesmo tempo... elas conversam a Tamy pega um esfegão emprestado pra mim... eu explico o ocorrido... ela traduz pra vizinha que não entendeu nada porque eu falei em português com a Tamy... e fico aí uns 20 minutos secando tudo... molhando a toalha e os panos no chão, torcendo, e voltando a molhá-los...

Ufa! Foi essa a festa de comemoração de três meses em Paris... lembro depois que eu tinha colocado a câmera para ficar filmando "o nada" para gastar a bateria... e incrivelmente eu tinha colocado a câmera virada para a cozinha e para o banheiro... ou seja, tem mais de 8 minutos de gravação desse momento único na minha vida... desde a descoberta da água na cozinha, passando pela chegada da Tamy, da vizinha, do vizinho que passou depois, e de uma parte da secagem...

Tenho a dizer ainda que nada melhor para fazer esquecer uma dor no estômago... que doía um pouco... e depois disso não doeu mais, até agora... 23:15... quando consigo escrever... depois de já ter ajudado a Tamy no trabalho de Boal e depois de ter assistido toda a gravação feita pela minha câmera sem querer...

Agora eu posso dizer: _Eu alaguei meu quarto... E alagaria várias vezes para curar minha dor de estômago...

então que seja doce...

hoje fiz mais uma vez arroz-doce (já tinha feito no final de semana passado)...
e que seja leve...
e que seja sem dor de estômago...



*Professora do Departamento de português da Faculdade de Nanterre, diretora da "Companhia Cá e lá".