Lu et approuvé.
M. Horta

Depoimentos, casos, tentativas de escrita...

sábado, 28 de maio de 2011

Asas.

Ele tinha umas asas nas costas.
Ainda pequenas. Tímidas. Os olhos olhavam sempre pro alto, sonhando com o dia em que alcançaria as nuvens... em que passearia mais perto das estrelas... em que se encontraria com a lua para ver os buracos e descobrir assim a presença ou ausência do dragão...
Ele tinha asas nas costas.
Asas brancas, de finas penas, com a textura da seda e o brilho do ouro. Asas que cresciam com o passar dos dias, que se mexiam com ternura e ventilavam com doçura ao redor. Asas que brilhavam no sol e no escuro, que se sacudiam após o banho encharcando todo o banheiro.
Ele tinha asas nas costas.
O tamanho das asas lhe dava a sensação de que chegara o dia de se aventurar pelos céus. As asas ocupavam mais espaço dentro de casa... encharcavam ainda mais o banheiro e se encolhiam um pouco para passar nas portas... Asas de amadurecimento, de tempo que passa e de objetivos construídos...
Ele tinha asas abertas.
Que se mexiam coordenadamente num vai e vém mais ou menos rápido, empurrando o ar para se manter nos céus... e que as vezes se abriam com toda a sua amplitude para pairar no céu e viajar pelas nuvens... as nuvens brancas, gotículas refrescantes num bom tempo de primavera de cores...
O universo sorria a cada giro, a cada pirueta que ele dava no ar... As flores sorriam, as folhas gargalhavam... o vento brincava, desafiava, dava as emoções necessárias para a aventura continuar... era o mundo do céu agora... o mundo sem os pés na terra... o mundo suspenso...
Eles tinham asas nas costas.
Todos. Porque ele não era o único que pairava no azul.
E depois vinha o tempo em que os pés sentiam também a falta da terra. E o tempo em que era preciso descansar as asas. E depois o tempo em que era preciso voltar a terra. Tocar os pés no chão, como naquela época de asas pequenas. Seria preciso deixar as nuvens e o azul... por um tempo... porque não se pode viver nos céus o tempo todo...
Ele tinha asas nas costas.
Asas descansadas prestes à alçar vôo de novo... essas asas que também chamamos sonhos...

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