Lu et approuvé.
M. Horta

Depoimentos, casos, tentativas de escrita...

sábado, 14 de maio de 2011

É preciso que se fale de teatro...

Paris tem um número enorme de espetáculos por noite...
Quase todos com bom público até onde eu sei... E espetáculos de todos os tipos, internacionais, nacionais, contemporâneos, clássicos, musicais, pastelões e afins...

Acabo de chegar da "Comédie-Française"! Fui assistir sem muito prever antes "Un tramway nommé désir"("Um trem chamado desejo" de Tennesse Williams) a primeira peça em 330 anos de Comédie-Française que não é de um autor francês...
Mas isso é só uma curiosidade... Desde 1680 a Comédie-Française constrói e mantém um repertório de espetáculos, com textos franceses, que são realizados durante o ano todo...

Esse é um pequeno exemplo clássico de um dos muitos lugares em que se pode assistir espetáculos em Paris... Vale notar que em todos os espetáculos que já fui até hoje, acho que contabilizo 7 exatamente, tinham um bom público ou estavam esgotados... e infelizmente, esgotaram "Fin de partie" de Beckett e "Rhinocéros" de Ionesco e então não pude ver... C'est dommage !

Mas enfim... as pessoas vão ao teatro... e muito...
Dá gosto de ver...

É cultura? Costume? Situação econômica? Ou tudo junto?

A publicidade demonstra bem que teatro aqui é negócio também e os investimentos são realmente feitos tanto em divulgação quanto em cenários, figurinos, encenação em si, porque eles sabem que o retorno virá...

E nós? Investimos também? Como investir? Sabemos se teremos público para ir ao teatro nos assistir em Belo Horizonte?

Eu sinceramente não sei...
Como mudar a situação também não sei...

É claro que comparar Paris e Belo Horizonte é um pouco demais da minha parte, mas sinto que é preciso fazê-lo querendo ou não... não sei a realidade de São Paulo, nem do Rio... mas pra gente, não acho a coisa muito boa...

Mas é em tudo também, é claro... quantos anos Paris existe, quantos anos Belo Horizonte existe... mas falta tudo... coisas básicas... as preocupações aqui são outras... o discurso político se preocupa com outras coisas é claro, com a energia nuclear por exemplo... para passar toda a essa energia para uma energia mais limpa... enfim... com a melhoria a cada dia do transporte público que já é infinitamente melhor do que o nosso... como uma cidade como Belo Horizonte não tem um metrô? Esse trenzinho que tem aí não é metrô, de verdade... eu achava que era, mas vi que metrô é bem diferente disso... enfim... penso no futuro também agora... como lidar com isso aí vendo de uma outra forma e o que fazer pra tentar mudar alguma coisa?

E falemos ainda um pouco mais de teatro...
No jornal hoje que ganhei na porta da Comédie-Française uma frase escrita na capa do jornal ficou martelando um pouco na minha cabeça:

"La culture est une résistance à la distraction" (Pasolini) - "A cultura é uma resistência à distração".

Voilà !
Lembrei com essa frase que as pessoas leêm muito aqui... Muito... no metrô a todo momento... lançamento de livros de um autor é motivo de vários cartazes publicitários... Livros aqui são muito baratos... tem uma coleção de vários livros de bolso, novos, por 2 euros cada... e na mesma coleção outros títulos à no máximo 6 euros...
Quase toda família francesa tem uma verdadeira biblioteca particular... distração ou resistência à distração? resistência, eu acho...

Por enquanto só ficam as perguntas... mas eu não brinco de fazer teatro...
Sempre que eu falo que eu sou ator ou as pessoas dizem que adoram teatro mas nunca vão ou elas pensam se eu vou pra Globo... normal... mas seria isso sintoma de alguma coisa?

Ser ator "de teatro" é o que afinal?
É bonito?
É legal?
É uma loucura?
É uma aventura?
É digno?
É curioso?
...
É o quê, hein?

E teatro? É o que mesmo?






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