Lu et approuvé.
M. Horta

Depoimentos, casos, tentativas de escrita...

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma história que salta

_Te encontro um dia desses em algum lugar.

Paris não é uma festa, já dizia o Caio. E não é mesmo. Te deixo a pensar no que nessa história de vidas. Porque foi o que a vizinha disse. No andar de cima Marie bate os sapatos de salto todos os dias às 23h, anunciando sua entrada triunfal na sua casa. No andar de baixo, é o rádio do Monsieur Gilbert que grita as notícias de uma França lida nos jornais do metrô todos os dias.
De minha parte, tenho a impressão de ser o mais normal do bairro. As crianças são inteligentíssimas. Falam um francês invejável, uma vez que são francesas. A casa palavrinha e sorriso, com os cabelos loiros por vezes, e os casaquinhos para proteger do frio.
E nada impede o sorriso infantil.
Mas dizia alguma coisa sobre Caio e vizinha. Ah, sim... lembrei. Aquele senhor do primeiro andar decidiu aprender acordeon nessa altura do campeonato. Achei válido e até parabenizei-o ontem quando passei pela portaria e ele entrava no prédio. Mas é claro que os seus vizinhos mais próximos, Marie e Caio não estão muito felizes. Ele é estrangeiro, estudante, com olhos de surpresa, cabelos no ponto de corte e um francês ainda meio arranhado. Ela trabalha no banco, elegante, charmosa, gosta de cozinha e tem uma tentativa, por vezes feliz, de ter alguma moda.
De mim não é importante saber nada. A não ser saber o que eu sei.

Ontem, já era 23h quando Marie chegou (não sei porque chega tão tarde todos os dias). O menino Caio chegou às 20h, saiu e voltou, às 21h com sacolas do mercado da esquina. Eu estava na janela desde às 16h esperando. Acontece que na hora que ela chegou e abriu a porta do apartamento encontrou um pequeno bilhete que dizia em francês o que traduzo pra vocês:

"Eu não aguento mais. E não sou francês. Não tenho como e nem sei dizer as palavras para pedir que o senhor do primeiro andar não toque mais. Você pode me ajudar? Ass. Caio. Sou o brasileiro do 2º andar."

Esse rapazinho mora no mesmo andar que eu. E Marie mora no terceiro. M. Gilbert é vizinho do Acordeonista. Eles não se incomodam um com o outro. A vizinha de Marie é espanhola e não é importante, pois vive viajando. Ele poderia ter pedido ajuda para mim que sou... Mas ele preferiu estreitar os laços com a vizinha. Diante do fato, nossa querida e educadíssima Marie lhe responde:

"Você pode vir no meu apartamento amanhã às 21h?"

Uh la la. Ela deixa o bilhete no outro dia de manhã, marcando o encontro para a próxima noite.

Caio acorda. Toma café da manhã. O de sempre: camembert com pão e leite com chocolate. Vai sair pra escola quando lê o bilhete. Ele corre e escreve num papel meio sem cuidado:

“Claro. Estarei lá.”

Ela chega, lê o bilhete e deixa pra ele escrito no dia seguinte:

“É hoje. Às 21h te espero.”

O rapazinho ficou meio nervoso. Intrigado. Fariam um plano? A vizinha já estava com vontade de fazer isso há muito tempo para convidá-lo para a casa dela para fazer uma armação logo? Ela era sozinha demais, depressiva demais e queria companhia? Ela tinha segundas intenções? Ela iria preparar alguma coisa para comer ou não? Ela estaria arrumada ou com roupa de ficar em casa? Ela estaria como? E o cabelo? E eu? (Indagou ele.) Como estarei? Com que roupa? Como alguma coisa antes de ir? Vou de calça jeans? De repente ele olha no relógio: 20:55h. Estava na hora.

Tranca sua casa com chave, pega as escadas e sobe. Chega no andar e o elevador abre. Marie chegava. Eles se olham. Ela olha no relógio rapidamente e sai. Ele vai atrás entrando no andar meio sem graça. Ela pára. Abre a porta. Olha pra trás e diz:

“Vem!”.

Ele entra. Ela entra. Ela fecha a porta com chave. Ele fica no meio (bem no meio) do apartamento sem saber o que fazer. Ela tinha compras. Ele quis ajudar mas eram duas sacolas e ninguém precisa de ajuda com duas sacolas. Ele não consegue ajudar. Ela está em silêncio. Ela diz meio esbaforida: _Senta! Ele senta no sofá róseo. Ele diz: “Te atrapalho?”

_Imagina! Fui eu que marquei essa hora.

_ Pois é. Mas se você quiser eu posso voltar mais tarde.

_ Não precisa, bobagem. Sem problemas. É que eu costumo chegar sempre mais tarde e o metrô estava um pouco cheio.

_ É normal nessa hora.

_ É, eu sei.

_ Então?

_ É.

_ É.

_ Ah, o acordeon... É isso que você quer olhar, não é?!

_É.

_ Olha ele é bem chato. Se a gente falar com ele é capaz de ele tocar mais só pra irritar. Ele um francês daqueles que você vê em filme. Mas daqui a pouco você acostuma. Não se preocupa. Eles têm essas manias. Daqui a pouco muda de mania e fica tudo bem.

_É. Mas... é...

_ Você aceita um vinho? Tive um dia pesado hoje, sabe? Com essa história de abertura de contas para estrangeiro nesse início de mês não paro um minuto.

_ (Sorriso seco. Concorda com a cabeça quando ela mostra a taça com vinho.)

_Você é estrangeiro, não é?! Caio. É assim que fala?

_ É. É. Brasileiro.

_ Sempre quis conhecer o Brasil.

_Verdade?

_ Verdade. Um brinde.

_Santé.

_ Santé.

_ Você não se importou de eu ter te chamado pra vir aqui, né?! Ah. Gosto de conhecer as pessoas que moram no andar de baixo. Por exemplo, não conheço seu vizinho. Pode ser que ele seja sozinho e poderia estar aqui agora com a gente se fóssemos amigos.

_É.

_ Ah eu falo muito, né?! Você conhece seu vizinho?

_ Só de vista.

_ Eu também. Engraçadinho ele, né?! Parece que sempre quer saber das nossas vidas. Acho que ele daria tudo pra saber da nossa conversa. Certamente ele observou que você subiu e está aqui.


Paremos no momento em que eles falam de mim. Observem como eles falam de mim e as considerações que fazem ao meu respeito, pois isso é tudo que vocês saberão...

Ainda não falei da portuguesa.

Hoje estou sem senso de humor para relatar o caso.
Mas vou colocar o tópico para que eu possa lembrar de escrever sobre a doninha portuguesa que cruzou o nosso caminho, meu e do Pedro.

_C'est compliqué!
_O père dela.
_ A mère dela.
_ O Brasil, ó...

Silêncio, o frio bate.

Olha pela janela!
Tem um frio lá fora.
O céu, esse ciel daqui é sempre nublado... sempre, não... mas quase.

E é grande a velocidade de mudança. Sempre quando aparece um solzinho frio, ele some logo, logo...
As nuvens invadem a cidade e instalam uma espécie de silêncio, ou de tristeza, talvez... Não costumo sorrir nesse frio. Não costumo admirar a paisagem nublástica dessas árvores sem folhas...
Não... mas estamos no final do inverno e isso é motivo de sorriso. Pelo menos espero que os jardins que estão replantados revelem sorrisos nos rostos parisienses e sobretudo no meu que gosto de plantas.

Não tenho plantas no meu quarto. Faz falta. Ao mesmo tempo, meu bonsai que ficou no Brasil sofre com minha ausência e deixa suas folhas caírem rápido demais. Ouço Camille. Que não é muito conhecida por aqui... ainda não sei que músicas os franceses ouvem de verdade...

Já contei sobre a "mulher melancia"? Af. Isso eles conhecem. Nem todos... ainda bem... Mas dizem "Mulher melancia" como se fosse nome e sobrenome de alguém. Se já ouviram falar de Chico, Caetano, Gil, Bethânia, Gal, Milton e etc...? _não! Mas já ouviram uma tal de Ivete.

Hoje é um dia feio. Feio mesmo. Daqueles.
Não saí de casa pois tive uma indisposição noturna, acordei tonto, enjoado e com dor de cabeça que até agora não passou. A sopa que eu fiz no almoço ajudou um pouco... já li Caio. E escrevo na esperança de um noite tranquila e em paz. Vou tomar sopa, tomar banho, ler mais um pouco e dormir...

Sonho com o dia em que essas árvores que estão bem na minha janela estejam repletas, verdes, vivas e alegres... cadê você primavera? Oú es-tu printemps?


domingo, 27 de fevereiro de 2011

e o tempo passa...

Tanto tempo desde a última postagem.

Já completo quase um mês de viagem.
Ainda tenho muitas coisas pra dizer, mas não sei bem ao certo o que tenho vontade de dizer hoje.

A última semana foi única. Um curso de teatro de uma semana na "Cartoucherie", mais precisamente no "Théâtre de la Tempête" com Dominique Boissel.
Primeiras cenas em francês, improvisações, textos dramáticos, discussões de proposição de cena, contação de história, tudo em Francês. Agora sim, falei bastante em francês. Às vezes as palavras faltavam, mas nada que um pequeno gesto não ajudasse a decifrar o que eu queria e me fizesse por consequência aprender palavras novas. Iiii... várias palavras novas... e muitas chances de colocar mesmo o francês na cabeça, observar muito as pessoas falando, enfim...
O conteúdo do curso também foi bem interessante e fiquei contente comigo mesmo, apesar da dificuldade da língua.

Bem, relato simples. O tempo é sempre incerto. Geralmente feio e às vezes com sol. Que não é um sol quente. Quente! Não... E sempre me engano. Olho pela janela um sol. Saio de casa com um pouco menos de roupa e... passo frio. Lembrando que em todo lugar tem aquecimento então o frio é só enquanto se está na rua.

Assisti na quinta-feira um recital de Fernando Pessoa intitulado "Pessoa" e com música, declamações e etc. Entrada gratuita no Teatro Aquarium. Além da parte boa do espetáculo, fomos surpreendidos com um bom vinho francês (de graça) e com uma sopa deliciosa pra acompanhar. Primeira ótima experiência como público na Cartoucherie. O Théâtre du Soleil (acho que um dos mais importantes do mundo) de Ariane Mnouchkine ficou só no namoro. Assim que nos aproximarmos mais um pouco conto tudo. Mas já foi uma honra passar a semana indo lá todos os dias e fazendo cenas e trabalhando do lado.

Visitei Montmartre de dia. Só tinha ido de noite. Vale a pena ir nos dois horários. Mais um Chocolat Chaud no "Deux Moulins" e uma piscadela para o "Moulin Rouge".

Ah... às vezes ainda é preciso acordar e dizer pra mim mesmo: _ Você está em Paris!
Mesmo que a realidade seja outra, que a Torre Eiffeil esteja sempre lá e enfim... ainda me preciso lembrar...

Hoje os acordeons tocaram nas ruas de Montmartre. A Paris um pouco sonhada, idealizada e apresentada nos filmes. Tudo é bem diferente e bem igual, na verdade.... E sempre com turistas... sempre... As estátuas vivas de Belo Horizonte são de infinita melhor qualidade que as de Paris que são descuidadas e não tem graça nenhuma. rs.

Mesmo os parisienses precisam de mapa pra se orientar no metrô... isso foi novidade. Mas nada mais óbvio, são 14 linhas, mais 4 linhas que vão na periferia, mais vários trens... mais ônibus... enfim...

Vinhos e queijos se fazem cada vez mais presentes mesmo. Camembert é sensacional. E está em todos os meus cafés da manhã. Fico feliz que o leite é barato.
Comi vários pratos franceses e estou satisfeito com a culinária francesa. Às vezes confesso que colocaria um pouco mais de sal, mas é realmente uma questão de gosto.
E acho mesmo que é uma questão de sorte que o seu prato esteja delicioso ou passável. Já comi pato. Foi o mais ousado... rs. Como comer esses pratos não é a coisa mais barata do mundo, não dá pra comer todo dia.

O Restaurante Universitário (vulgo bandejão pra nós brasileiros) é uma praça de alimentação jamais vista por mim. São vários pratos para escolher, além de salada, queijo, pão e sobremesa. Tudo super legal...

Continuo cozinhando bastante. Às vezes é preciso saber fazer coisas rápidas, às vezes dá tempo de curtir a cozinha, às vezes ela é apressada mesmo... embora sempre com o prato colorido e bonito.

Falta aqui: abóbora moranga, cenoura amarela (batata baroa), mandioca, quiabo, couve, salsinha, cebolinha e feijão, é claro. Bom, o enlatado é meio esquisito, mas já ajuda a preencher o vazio.

Agora o sono já bate. Queria mandar um beijo pra Lelê, pra Nini, pra Sosô, pra Lalá, pra Nunu, pro Mathew, pro Uel, pro Nado e pro Gui. Um beijo pra minha vó, pro meu vô, pra minha mãe, pra minha irmã e pra você!

uma língua...

http://www.youtube.com/watch?v=Y1qlrcf7rb8

Ah... As crianças falando francês. Eu aqui aprendendo a falar direito e as crianças falando tem um charme e algo muito divertido. São tão franceses! Claro...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Auto-ajuda: Cozinhe!

Se eu pudesse dar um conselho a vocês, eu diria: Cozinhem!
Se eu escrevesse um livro de auto-ajuda ele se chamaria: "A cozinha é meu remédio anti-depressivo".
Não, não creio que exagero nessa máxima de que é na cozinha, ou se você não tem uma como eu, é no fogão (ou que seja diante da placa elétrica) que é possível desabafar, conversar, trocar ideias, esquecer o mundo e descobrir uma auto-estima incrível.
Não, não estou com uma auto-estima incrível... mas acredito no poder culinário.

Não é à toa que a cozinha é o lugar do encontro, da alegria, do prazer, das boas energias numa casa. Cozinhar é viver também. É descobrir um mundo sensórioespacialpráticoracionalemotivo! Meus poucos anos de cozinha me ensinam que não existe essa de não saber cozinhar. Tento, sinceramente, entender o problema de quem reclama da falta de jeito na cozinha e só acho um problema de fato: falta de prazer ao cozinhar. Mas pra isso é preciso jogar.

Sim, cozinhar também é um jogo. Dos mais divertidos. Tem fases, tem níveis, tem dificuldades, tem controle, tem tipo de jogo... quase um Wii mesmo. Mas com recompensas muito maiores do que se tornar PRO e não tem mais pra onde ir. Cada dia é um dia na cozinha. Cada prato é um prato. Cada tentativa é uma tentativa. E nada melhor do que brincar de tentativa e erro. É preciso jogar e encontrar o prazer do jogo. Pra mim é essa a receita. E o prazer se encontra em lugares inesperados às vezes...

Cozinhar me parece exigir um mínimo de disciplina e de organização lógica, mas que se conquista facilmente durante as primeiras fases do jogo. Eu falava sobre encontrar o prazer na cozinha. Bem, cada um é cada um, mas algumas coisas podem ajudar... Seguem pequenas dicas:

1) Se você gosta de desafios de risco, pegue uma receita e se aventure imediatamente.
2) Se você quer começar com mais tranquilidade comece com pequenas coisas, sobretudo as pequenas coisas que você gosta muito de comer... Brigadeiro, por exemplo!
3) Se você gosta de risco mesmo experimente propor um jantar para uma pessoa importante para você: seja sua mãe, sua avó ou um namorado.
4) Se você é mais na sua, aproveite o momento em que não tem ninguém em casa (se você mora sozinho é ainda melhor) e se aventure sem medo. O máximo que pode acontecer é ficar ruim.
5) Acompanhe todo o processo de realização da comida. Nada de sair fazendo mil coisas ao mesmo tempo, pelo menos nas primeiras tentativas. Afinal, é preciso criar afeto com o alimento. E você tem menos risco de deixar queimar e etc.
6) Desfrute ao máximo o prazer da comida preparada por você e não vacile, se você acha que pode ficar melhor, de melhorar a sua comida. Colocar um salzinho depois, uma pimenta ou fazer algum ajuste final não há problem nenhum.
7) Crie. Invente. Você é capaz.
8) Nunca pense nas vasilhas que você tem que lavar. Com o tempo elas também tornam parte importante do processo de cura através da prática culinária. Mas uma dica: tenha poucas vasilhas, poucas panelas e etc, pois isso vai te obrigar a buscar meios mais práticos de cozinhar sem sujar muito vasilhame.
9) Lave o máximo de coisa antes de comer.
10) Novos ingredientes são uma dádiva dada por Deus e escolhida no supermercado. Aproveite e leve sempre produtos novos pra casa. É bom para experimentar e é sempre um desafio novo para os mais avançadinhos.
11) Decore o prato. Ou pelo menos deixe a comida minimamente bonita, colocando um queijo ralado por cima, ou uma folhinha de manjericão ou alguma coisa que te agrade.
12) Pratos coloridos são fatidicamente mais saborosos.
E por fim:
13) Coma a sua comida em todas as hipóteses. Não se pode desperdiçar comida e comer uma comida que não te agrada muito mas foi você quem fez te fará aprender mais rápido e lembrar do que você fez de errado para não repetir depois. ATENÇÃO! Isso é mesmo importante. Não precisa fazer seu marido, sua mãe e afins comerem o seu desastre, mas é importante que você coma. Aprenda com você mesmo e seja rigoroso nessa regra.

Bom a partir daí você já descobrirá que não é mais o mesmo. Depois de um dia cheio e de poucas possibilidades na geladeira, você:

a) pede uma comida por telefone;
b) sai pra comer fora;
c) experimenta criar algo novo com o que tem na geladeira;
d) dorme com fome.

RESPOSTA CERTA: C.

É claro... estamos numa postagem de estímulo a prática culinária alheia. Mas vale notar os benefícios da prática culinária em relação as alternativas apontadas acima.

a) Enquanto você espera a comida você estará na frente do computador, na internet, no telefone celular ou se ocupando com qualquer outra merda eletrônica. Você tem a possibilidade de pensar no dia ruim, no trabalho triste, nas contas pra pagar e etc...
b) Você vai encarar o trânsito em primeiro lugar. Se sair a pé, melhor. Vai comer uma comida feita pra milhões de pessoas enquanto poderia comer um prato único. Vai desfrutar de um prazer pessoal em um lugar público e não vai ficar a vontade. Possivelmente uma televisão gritará coisas na sua cabeça. Possivelmente estará sozinho numa mesa com quatro cadeiras e quando você chegar o garçon vai limpar toda a mesa deixando uma taça, uma faca, um prato e etc. Eu acho um pouco depressivo.
c) RESPOSTA CORRETA. Esse é seu momento de cura. Crie. Faça uma coisa diferente. Aproveite esse momento para cozinhar. Coloque uma música se gostar (cozinhar ouvindo música também interfere no sabor da comida, portanto evite músicas de baixo nível ou a comida também sairá assim). Nesse momento especial da sua vida você vai experimentar um momento único, só pra você e os seus alimentos. Depois na hora de comer você comerá uma comida única, que nunca mais será feita (felizmente ou infelizmente). E outros benefícios como fortalecimento muscular (braço, perna, abdômen e etc.), limpeza mental, quase-meditação, organização dos sentidos e motivação lhe serão dados consequentemente.
d) Você não vai dormir com fome, né?!

Por fim, concluo: cozinhar é viver sem depressão. Quando você estiver em Paris longe da família por um tempo, sem muitos amigos pra conversar e abraçar e com uma saudade começando a bater: cozinhe! E faça isso também onde quer que você esteja, sozinho, acompanhado, enamorado, casado, gripado, dopado, assado, amado, suado, enervado, enfim...

E se for cozinhar sempre para você? Esse é o seu momento de avanço culinário. Aproveite!

"Quem cozinha seus males espanta!"



(risos. escreva um blog também que é legal.)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amanheceu...

Amanheceu um dia tranquilo.
Eu tinha que fazer sacolão, ir no banco e andar rápido porque daqui a pouco tenho aula.
Não dei conta. Acordei tarde e fiquei por aqui. Lendo e-mails e acabei vindo escrever...

Não quero nada com senso hoje. O vidro da janela está um pouco sujo. Será que é por causa da comida que eu faço sempre com as janelas fechadas? Meu pé sente um friozinho.
O que eu quero escrever hoje é que... não é mesmo uma questão de espaço e tempo... tenho que pensar sobre a démocratie pra disciplina de agora de tarde... Mas o que eu queria dizer mesmo... é que eu sonhei muito essa noite... sonhei com crianças caindo do céu... sorridentes, loiras, bebês, um pouco mais velhas... elas vieram com uma enchorrada de uma espécie chuva... minha tia acolheu uma delas no colo... e depois vieram outras... os pais delas morreram, eu acho... mas ganhamos esse presente... eu tinha três no meu colo... mas não era isso que eu queria contar... porque eu acordei no meio da noite e pensei que esse sonho era legal... e que ele começou como um pesadelo e se transformou num sonho... não tenho pesadelos aqui...
Mas também não era isso... talvez eu devesse dizer que não tenho ninguém aqui dentro desse quarto para contar o meu sonho. "Se eu não puder contar meu pesadelos pessoais pra você, pra quem é que eu vou contar?" (Esperando Godot, Becktt) Mas não foram pesadelos e eu escrevo para contar...
Mas o que eu queria dizer mesmo é que depois de ontem, ou melhor, depois de agora, escrevendo... me deu uma saudade... talvez seja isso... deve ser isso que se chama saudade... esse apertinho no peito, essa lágrima que não cai, essa imobilidade na cadeira, essa procura por palavras... talvez fosse isso que eu queria dizer... quando falava de sonhos... mas são também nesses momentos de sonhos que eu aproximo e mato a saudade daqueles que estão longe... ou até daqueles que estão mais longe ainda e que eu não pude me despedir... é no sonho que a minha terra pulsa... pena que eu não posso dormir agora... vou tomar banho, fazer almoço e ir pra aula... tenho um cotidiano a cumprir...
Mas acho que ainda devo dizer mais uma coisa para evitar, quer dizer, duas coisas... Mãe, eu tô bem! E Laurinha, minha flor, parabéns!!! (Sorrio com lágrimas...)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

e lá se foram duas semanas...

Ufa! Como o tempo passa rápido... já se vão duas semanas de ajeitamentos, experiências, acostumações, saudades, frios, embaraços, enrolamentos de língua, pertubações ouvivídicas, confusões maquinárias...
Ah essas confusões... ainda não vos falei sobre as máquinas...

as máquinas.
A taxa de desemprego na França está em 9,3% (final de 2010) segundo pesquisa publicada no jornal Le Monde. Sabemos da crise e de outros fatores que pouco importam sobre o desemprego na França com relação ao que venho dizer agora. máquinas.
Elas estão por todos os lados fazendo diversas funções que no Brasil, atualmente, dão emprego para muita gente com certeza...

  1. Tirar xerox. Sim, pode haver algum momento em que você entre em alguma lojinha na faculdade e peça para alguém tirar xerox para você, mas isso não é o normal. Senhoras e senhores máquinas estão espalhadas na faculdade e em todos os correios nas quais você mesmo tira o seu próprio xerox. No correio você coloca a moedinha (como em todas as máquinas) e isso valida uma cópia para você tirar. Na faculdade existe um cartão que você compra e recarrega com o número de cópias. Mais adiante conto um fato.
  2. Lavar roupa. O mesmo sistema de moedinhas. Você coloca a moeda e a máquina então se disponibiliza a fazer o serviço. (Lembrando que em EURO existem moedas 1 e 2 euros, acho que até de cinco apesar de eu não ter topado com uma dessas ainda.)
  3. Ticket de metrô. É na sorte. Recarregue seu cartão ou compre seu ticket pela maquinha e em alguma poucas estações você alguém que pode te ajudar... bilhetes errados? vários... euros perdidos? alguns...
  4. Pra todo canto aquelas máquinas com chocolates, água, refrigerante e etc. (mini-lanchonetes) só na base da moedinha.
  5. Medalhinhas nas igrejas? Coloque a sua moedinha que a medalhinha cai.
  6. Ainda acho que esqueci mais alguma qualquer coisa coloco depois.
Sendo assim, imagine centenas dessas máquinas espalhadas por Paris (talvez pela França inteira - informação à confirmar) e conclua o número de postos de trabalho substituídos por máquinas... Que essa tecnologia não chegue ao Brasil para não aumentar a miséria e a disparidade econômica.

Ainda não falei sobre insetos.

os insetos.
hã? o que é isso?
Não sei se é porque estamos no frio, mas... pasmem... não vejo insetos...
barata, aranha, lagartixa, formiga, bezouro, grilo, pernilongo, mosquito, ribibiu e afins... eles não estão aqui...
Tem uns 10 dias que comprei açucar em pequenos pedaços e a embalagem não é muito prática então o açucar fica aberto. Problema? Não. Não tem formiga para comer meu açucar... nem meu chocolate, nem qualquer balinha que eu por ventura deixe sobre a mesa durante 15 dias...

Ainda não falei sobre o meu tamanho.

o tamanho.
Pequeno... ainda menor que no Brasil... Não o tamanho mesmo em centímetros, mas o tamanho de ser... Como são grandes as igrejas, os museus, a torre, os arcos, as praças... como sou pequeno... e sou pequeno intelectual também... ixiii... pelo menos nisso posso crescer...
Porque Paris é Paris? (Mudei pra ouvir Piaf)
Não conheço nada de nada... Recolho a minha ignorância sobre a história, sobre os homens, sobre meu passado, sobre os homens que marcaram os tempos, nas artes, na filosofia, na música, na política, enfim... Quanta história pelas ruas... Mas essa história não está escrita em cada esquina e é preciso buscá-la em outros meios... voilá....
É preciso fazer isso... Porque cada vez que eu saio volto mais culto e mais burro ao mesmo tempo... é aquela máxima nunca tão verdadeira como agora:

"Quanto mais sei, mais sei que nada sei..." (não sei quem disse isso também...)

Espero ainda discutir e comentar sobre as obras, sobre as igrejas, sobre tudo que vi... mas deixarei pra mais tarde... numa nova oportunidade... quando eu estiver mais sabido e mais conhecido de arte e história... Em princípio é só bonito de ver (e curioso) como alguém vai achando (lapidando) uma Vênus de Milo no meio de uma pedra bruta que não era nada numa data que nem sei enunciar: 120 anos antes de Cristo.

É muita história. Muito passado.

Hoje me senti de novo dentro de um filme.

Notre-Dame et Saint-Sulpice
Igrejas visitadas... Em Notre-Dame uma enchorrada de turistas para visitar a igreja e escutar a audição do órgão. Bravo! Pela primeira vez escutei um órgão assim na minha vida... Mas não foi tudo. Me senti num filme em Saint-Sulpice. Igreja vazia. Poucos ou nenhum turista. Ah, aí sim... Confesso que o grande número de turistas em alguns pontos turísticos tem me incomodado bastante... Saint-Sulpice estava vazia. Esta igreja teve sim gravações de "O Código Da Vinci", talvez por isso a impressão... Mas enquanto eu estava lá dentro escuto o órgão novamente tocar... Pela segunda vez no dia, em um órgão tão grande quanto o de Notre-Dame. Olhando o teto, passando meus olhos como uma câmera pela igreja e com a trilha sonora do órgão, me emocionei... pela beleza do fato, pelo meu tamanho ocupado, pelo preenchimento da música, pela história vibrando diante dos meus olhos... faltou saber toda a história, mas isso aprenderei e retornarei para observar mais...

Já é tarde... (mas fui "cobrado" pela minha mãe de que não estava escrevendo...)

O caso que eu estou devendo sobre o xerox, ou melhor, sobre como se perder 20 euros:
Eu precisava tirar xerox. Eu precisava de um cartão. Eu então fui até uma máquina que dizia que vendia cartão e que aceitava moedas de 1 e 2 euros e notas de 10 e 20 euros... O meu cartão custava 2 euros. Mas eu não tinha moedas... Portanto, pensei, observei a máquina e disse... ela vai me dar troco. Com certeza... Todas as máquinas dão troco. Coloquei a nota de 20 e deixei que a máquina puxasse... Selecionei o cartão... Ela escreveu que eu tinha dado 20 euros... Não tinha o que fazer... Apertei um botão lá... O meu cartão de xerox saiu e ela escreveu... você tem 348 cópias... (Pause)... Hã? Inacreditável... Ela não me deu troco e eu não vou precisar de tantas cópias assim... sabe o que são 20 euros? Façam as contas aí com um câmbio de R$2,37...
Voltando nesse lugar da referida máquina observei uma pequena inscrição antes não vista:
"Ne rends pas la monnaie." O que quer dizer: "Não devolve troco". Portanto, mais atenção com as máquinas... principalmente as que possuem isso aí escrito...

p.s Texto sem revisão. Pode conter erros. Numa outra oportunidade faço a referida revisão.
p.s.2. Ainda não falei de saudades... mas elas existem...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O estrangeiro.

Num lugar desconhecido.
Pessoas desconhecidas que parecem estrangeiras.
Nenhum tipo conhecido. Estrangeiros com certeza. Estrangeiros como eu? Não.
Sou eu o estrangeiro na verdade.
Andando pela faculdade acho que todos são estrangeiros. Rs.
Sou eu o estrangeiro na verdade.
E que lugar é esse...
Estranho. Aquele que não consegue falar direito. Que não consegue se expressar direito. Que não se sente à vontade para agir normalmente.
Enquanto turista não há problema. É quase permitido. É assim, turista. Que passa, conhece e vai embora.
Eu permaneço. Aqui. Em Paris. Não tem hostilidade por parte das pessoas. Mas não é minha casa, minha terra, minha língua. E é essa a experiência, é claro. E é sempre válido... Mas é engraçado achar que todo mundo aqui é estrangeiro. E pra mim, querendo ou não, todos são.

A língua é sempre um problema. Na teoria pode até ficar bem, mas no meio de uma turma de franceses com cara de estrangeiros você conseguir emitir uma opinião. Buf! C'est dificile!
Mas seguimos tentando... só tive uma aula até agora... ainda estou sempre com um pé atrás com tudo... acho que já é hora de me jogar sem medo, afinal o que pode acontecer de tão grave, né?!
Hoje tem jogo do Brasil. Eu fui pela segunda vez na faculdade e não tive aula, só começa semana que vem e ninguém me avisou. Buf! Peguei livros na biblioteca com muito custo. Mas consegui. A data de devolução é no meio das férias. #comolidar.
Sim, tenho férias já em fevereiro. Férias de inverno. No fim do inverno.
O dia amanheceu nublado, mas o sol apareceu de novo. \o/
É hora de dar tchau.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Do outro lado da tarde...

Peço uma pausa para colocar aqui um conto de Caio Fernando Abreu.
Enquanto olhei a linda e enorme roda gigante que fica próxima ao Louvre lembrei desse conto.
E é só... Só pra compartilhar mesmo...



DO OUTRO LADO DA TARDE

Para Maria Zali Folly
Sim, deve ter havido uma primeira vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro das outras vezes, também primeiras, logo depois dessa em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança - e todas as lembranças são vagas, agora -, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. Depois, aquela primeira vez e logo após outras e mais outras, tudo nos conduzindo apenas para aquele momento. Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou. E foi essa coisa que me levou há pouco até a janela onde percebi que chovia e, difusamente, através das gotas de chuva, fiquei vendo uma roda-gigante. Absurdamente. Uma roda-gigante. Porque não se vive mais em lugares onde existam rodas-gigantes. Porque também as rodas-gigantes talvez nem existam mais. Mas foram essas duas coisas - a chuva e a roda-gigante -, foram essas duas coisas que de repente fizeram com que algum mecanismo se desarticulasse dentro de mim para que eu não conseguisse ultrapassar aquele momento. De repente, eu não consegui ir adiante. E precisava: sempre se precisa ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto. Mas de repente não havia depois: eu estava parado à beira da janela enquanto lembranças obscuras começavam a se desenrolar. Era dessas lembranças que eu queria te dizer. Tentei organizá-las, imaginando que construindo uma organização conseguisse, de certa forma, amenizar o que acontecia, e que eu não sabia se terminaria amargamente - tentei organizá-las para evitar o amargo, digamos assim. Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro, quando e como nos conhecemos - logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos. Durante todo o tempo em que pensei, sabia apenas que você vinha todas as tardes, antes. Era tão natural você vir que eu nem sequer esperava ou construía pequenas surpresas para te receber. Não construía nada - sabia o tempo todo disso -, assim como sabia que você vinha completamente em branco para qualquer palavra que fosse dita ou qualquer ato que fosse feito. E muitas vezes, nada era dito ou feito, e nós não nos frustrávamos porque não esperávamos mesmo, realmente, nada. Disso eu sabia o tempo todo. E era sempre de tarde quando nos encontrávamos. Até aquela vez que fomos ao parque de diversões, e também disso eu lembro difusamente. O pensamento só começa a tornar-se claro quando subimos na roda-gigante: desde a infância que não andávamos de roda-gigante. Tanto tempo, suponho, que chegamos a comprar pipocas ou coisas assim. Éramos só nós depois na roda gigante. Você tinha medo: quando chegávamos lá em cima, você tinha um medo engraçado e subitamente agarrava meu braço como se eu não estivesse tão desamparado quanto você. Conversávamos pouco, ou não conversávamos nada - pelo menos antes disso nenhuma frase minha ou sua ficou: bastavam coisas assim como o seu medo ou o meu medo, o meu braço ou o seu braço. Coisas assim. Foi então que, bem lá em cima, a roda-gigante parou. Havia uma porção de luzes que de repente se apagaram - e a roda-gigante parou. Ouvimos lá de baixo uma voz dizer que as luzes tinham apagado. Esperamos. Acho que comemos pipocas enquanto esperamos. Mas de repente começou a chover: lembro que seu cabelo ficou todo molhado, e as gotas escorriam pelo seu rosto exatamente como se você chorasse. Você jogou fora as pipocas e ficamos lá em cima: o seu cabelo molhado, a chuva fina, as luzes apagadas. Não sei se chegamos a nos abraçar, mas sei que falamos. Não havia nada para fazer lá em cima, a não ser falar. E nós tínhamos tão pouca experiência disso que falamos e falamos durante muito e muito tempo, e entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava - ou talvez os dois tivéssemos dito, da mesma forma como falamos da chuva e de outras coisas pequenas, bobas, insiginificantes. Porque nada modificaria os nossos roteiros. Talvez você tenha me chamado de fatalista, porque eu disse todas as coisas, assim como acredito que você tenha dito todas as coisas - ou pelo menos as que tínhamos no momento. Depois de não sei quanto tempo, as luzes se acenderam, a roda-gigante concluiu a volta e um homem abriu um portãozinho de ferro para que saíssemos. Lembro tão bem, e é tão fácil lembrar: a mão do homem abrindo o portãozinho de ferro para que nós saíssemos. Depois eu vi o seu cabelo molhado, e ao mesmo tempo você viu o meu cabelo molhado, e ao mesmo tempo ainda dissemos um para o outro que precisávamos ter muito cuidado com cabelos molhados, e pensamos vagamente em secá-los, mas continuava a chover. Estávamos tão molhados que era absurdo pensar em sairmos da chuva. Às vezes, penso se não cheguei a estender uma das mãos para afastar o cabelo molhado da sua testa, mas depois acho que não cheguei a fazer nenhum movimento, embora talvez tenha pensado.
Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora. Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante - seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela nossa conversa - depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.

Pause e sonho...

Enfim, dois dias de turismo.

Torre Eiffeil. Montmartre. Sacre-Couer. Café Deux Moulins (da Amelie Poulain). Moulin Rouge. Louvre. Arco do Triunfo. Champs-Élysées.

Agora sim...

Em princípio tudo parece meio irreal e real demais ao mesmo tempo. As coisas antes vistas por fotos estão lá materializadas na sua frente. Quase um sonho. Ontem sonhei. Sonhei pela primeira vez em francês, eu falava em francês, resolvia problemas com documentos em francês e etc. Acordo! A sede de todas as noites me faz levantar, beber água e volto para cama. Percebo então o fato: sonhei em francês. E custo conseguir dormir novamente. Rs.

Um sonho. Sonhos. Sonho de viagem. De conhecimento. De busca. De conquista. Sonho de ver, de ouvir, de brincar, de tirar fotos, de ser mais...

E o que pensar disso tudo? E o que pensar das centenas de pessoas que estavam hoje no Louvre? Das outras centenas na Torre Eiffeil? E das outras centenas caminhando por Champs-Élysées? Eu e um mundo... grande... vasto...

Uma torre se destaca no horizonte azul de Paris. Hoje, domingo, um sol

ainda não visto e nem sentido. Longe do sol da minha terra, mas sol... Olhos fechados, reflexo na água, cores ressaltadas, vivas... Paris sorriu... Tentei capturar seu sorriso largado, tranqüilo, de bom humor mesmo. Longe daquela cara meio nublada e enigmática que lembra La Joconde.

La Joconde é pequena. Também pudera com a sala de visita lotada, pessoas se apertando para levar para casa um pedaço de algo “ilevável”. Uma foto com você e Monalisa no fundo significa o que? Que você foi lá. Legal. Eu também tirei a minha, mas e daí? E a Venus de Milo? Obras, tempos, história, mundos se cruzando. Um museu com pessoas de todos os lugares do mundo ao mesmo tempo. Talvez isso tenha me chamado mais a atenção do que tudo. Qual o valor disso tudo? Conhecer a história? Valorizar o passado? O presente? O homem? O respeito? O quadro? A pintura? A cidade? Qual o valor da torre?

Não sei. Levanto as questões humildemente e sem respostas. Mas não coloco as fotos e não descrevo tudo para ser visto e colocado num lugar melhor porque estive em Paris. Porque não importa se as fotos estarão no Orkut ou no facebook (como uma brasileira comentou com uma outra que não teria fotos para colocar no Orkut e brigou sei lá porque...). Importa a experiência que se vive estando em Paris e a vontade de compartilhar essa experiência... Importa pensar o mundo, a arte, a minha profissão, a minha vida... em função de um mundo passado, de homens que foram e que estão marcados eternamente em esculturas, quadros e etc. Importa se colocar no lugar de homem. Que homem? Importa se colocar no centro da Torre Eiffeil e perceber o seu tamanho. E perceber, ainda mais, que foram também homens mais ou menos do seu tamanho que construíram aquela obra gigantesca. Sim, importa... Porque os tempos de ver as coisas e as cidades estão aí. Quantas pessoas viram Paris hoje...

E quantas pessoas se viram hoje? Quantas pessoas viram as crianças brincando? Quantas pessoas tiveram tempo para esperar o sol abaixar um pouquinho para ter uma visão mais bonita do horizonte... da torre no horizonte... Eu esperei esse tempo hoje... e foi um tempo de sonho. De ver os rastros dos aviões cruzando o céu sobre o arco do triunfo... E eu sonhei.

Mas o que eu queria dizer, talvez, é que as pessoas hoje não se viram... E que Paris não é uma cidade, e sim pessoas... pessoas que construíram tudo, pessoas que movimentam a cidade e tudo o que tem nela... E que o mundo é de pessoas... e não importa o quanto elas são diferentes, qual a língua que elas falam e etc... somos homens... todos... de uma mesma espécie, de um mesmo mundo... Não sei onde eu quero chegar com isso tudo... cheguem a algum com isso se quiserem ou não cheguem a lugar nenhum, sabendo que ficar sem chegar a lugar nenhum é perder experiências, e conseqüentemente perder vida... mas ficar sem chegar a lugar nenhum não significa que não se pode ficar parado... Nada mais bonito e sincero que a pausa. Pause!







E não desperdice sua única vida correndo de um lugar para outro vendo coisas (ou fazendo coisas)... veja as pessoas, porque são elas, no fim, que importam... vejam as pessoas por trás das coisas... e quem sou eu pra dizer essas coisas... rs... quanta coisa! Que coisa! Coisice... Mas é o que fica... Pause!

Torre Eiffeil. Pause.

Montmartre. Pause.

Sacre-Couer. Pause.

Café Deux Moulins (da Amelie Poulain). Pause.

Moulin Rouge. Pause.

Louvre. Pause.

Arco do Triunfo. Pause.

Mais que um pause para a foto. Um pause para a vida.

Paris, 06 de fevereiro de 2011.

p.s. fotos por enquanto só no facebook.com

p.s. fotos em http://www.flickr.com/photos/59204619@N05/

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Lu.

Oui, la Tour Eiffeil reina sobre Paris. Vi um pouco de Paris até agora, mas de longe, no meio do céu cinzento e de prédios (altos ou baixos) algo muito maior surge e toma conta do horizonte parisiense.
Estou em Saint-Cloud e a visão da torre é linda. Mesmo distante (na foto fica bem pequena) a sua majestade se impõe no horizonte.
Da minha janela, em meio a galhos secos das árvores de la Résidence Universitaire de Saint-Cloud está la Tour Eiffeil. Meu quarto/apto é agradável ainda mais com a bandeira do Brasil de todo tamanho para alegrar e colorir. Encontrei-o todo branco, limpo, com tudo (ou quase) funcionando e as indicações de Mme. Paillard sobre os custos de estragar cada coisa.

Chambre de la Résidence Universitaire de Saint-Cloud


Por falar em Mme. (madame) Paillard, aqui sou M. (Monsieur - pronuncia Mêcier) Horta (Hortá).
Já escolhi disciplinas no curso de Teatro e acho que será ótimo, os títulos e as ementas das disciplinas seduzem.
Se os parisienses são chatos? Aind anão sei dar uma informação precisa. Mas se fosse para dizer agora, eu diria que não.
Só encontramos simpatia e senso de humor (peculiar) no caminho. E não queiram de fato que eles sejam educados na correria do metrô e olha que muitos foram simpáticos mesmo assim.

P.s. Tudo aqui é bem caro também (principalmente pensando que meu dinheiro estava em Real). Mas não desenvolvemos esse assunto.

P.s. 2. A menção "Lu et approuvé" quer dizer literalmente "lido e aprovado (de acordo)" que devemos colocar em todos os documentos, contratos e quase tudo que assinamos até aqui.

*Escrito na sala de espera do BNP Paribas (Banco Francês).

4º dia.

As primeiras fotos. O primeiro macarrão. Descobertas e simpáticos francesses pelo caminho.
UFA!
Dias intensos e cheios de coisa. Mas não se enganem:
Torre Eiffeil só de longe. Louvre nem cheiro. Arco do triunfo? Notre Dame? Quartier Latin? Champs-Élysées? Seine? O que é isso tudo?
São inúmeros papéis, assinaturas, compras a fazer...
Ainda não fui quase nada turista aqui.
Mas a hora vai chegar...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

03 de fevereiro 2011

Estou sem tempo para escrever... um dia cheio... um calorzinho...
primeira visão da tour eiffel...

Paris!

assim que tudo se normalizar, volto a escrever...

aguardem...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Paris, le 02 février 2011

O mundo corre.
Paris corre.
As pessoas no metrô de Paris correm muito.

Dia de conhecer a universidade. Paris Oeust Nanterre La Défense.
O clima agradou. Fui no prédio de teatro.

Conhecemos hoje também o nosso segundo bairro. Além do bairro onde estamos, fomos comprar uma máquina fotográfica e conhecemos rapidamente Saint-Lazare.

Quanto à língua não entendo tudo. Mas entendo. E isso já é ótimo. Rs.
Ainda estou engatinhando, mas isso é um grande passo para caminhar e logo sair correndo por aí...

Não vou me delongar muito mais... isso é o mais importante, além de outras experiências que virão na memória mais tarde e que tentarei organizar nas próximas postagens.

À bientôt!
De Paris.

Batata Parisiense - La récette

Começamos nossa estadia em Paris com uma aventura culinária forçada.

00:00h.
Fome.
0º ou menos do lado de fora...

Encontramos umas batatas no apto e um chá e decidimos fazer o chá e cozinhar as batatas.
Sabíamos que ia demorar mas achamos que estava bem esperar. Não contávamos com vapor do cozimento da batata que começou a humidecer as paredes armários e tudo que estava na cozinha.

Decidimos prontamente para o cozimento. Picar as batatas em cubos e refogá-las. Assim fizemos e daí nasceu o nosso primeiro prato francês em Paris. Batatas parisienses... Segue a receita.

2 pommes de terre grandes
2 cuillers d'huile d'olive
Un peu des herbes de provence
Un peu d'ail rapé
Un peu d'oregano
Un peu de poivre noir
Sel

Refogue a batata em cubos no azeite e tempere a gosto.

Primeiro prato feito em Paris. Segue a foto, tirada da webcam.
Pardon, a qualidade da foto não valorizou o produto.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Paris, 01 de fevereiro de 2011

Frio.
Saí de Belo Horizonte às 14:00 do dia 31 de janeiro de 2011 com destino à Paris.
Agora são 22:24h, do dia 01 de fevereiro de 2011, aqui e estou com muito frio (até agora a pouco estava uma temperatura de 0º, acho que agora está mais baixo que isso).

continuando...
Fomos* para o Rio de Janeiro, depois descemos em Madrid e depois chegamos em Paris, às 14h.
Vôos tranquilos, comida não muito farta e nem muito luxo, mas tudo bem... isso não é o mais importante...
Chegamos em Paris tranquilos e um pouco famintos.

Na chegada, um amigo do Pedro estava nos esperando. Vimos que ele estava lá e fomos esperar as bagagens... As bagagens chegaram e estava tudo bem, mas como estava frio fomos arrumar, fui mudar umas coisas de lugar para facilitar para carregar, enfim... Quando estávamos saindo fomos interrompidos por dois guardas franceses que não estavam com roupa de guarda, nem nada e fizeram perguntas para mim e para o Pedro.

O que você faz aqui? De onde vem? Profissão? Estuda o que? E várias perguntas em Francês...
Primeiro contato com a língua e um elogio... Pelo menos ele logo deixou a gente passar e ainda disse que eu falava bem francês. Ponto pra mim.

Saímos do aeroporto, o Orly, e fomos para o metrô. Maldita mala ruim, com rodinhas péssimas que eu inventei de levar... Com certeza ainda vou falar mais dela... (Coloquei um chorinho para ouvir). Enfim, fomos andando e paramos para comer alguma coisa em um café no aeroporto. 5,90 euros um sanduíche que dividi com o Pedro. Pedimos comida em Francês, eu tratei a mulher do balcão por "tu" e fui logo repremido, pois deveria tratá-la por "vous".

Comemos e seguimos. Um trezinho nos levou a estação Antony. De lá pegamos o metrô até a estação que fez com que a ficha de estar na França comessasse a cair (escrever isso ajuda também). Foram primeiros momentos de sonho. Me senti personagem de filme por muitos momentos e senti que as pessoas na rua também eram personagens filmes. Tipos franceses clássicos, muita roupa de frio e enfim com malas e afins chegamos à Châtelet - Lei Hailles.

Um quase pânico.
Muita gente.
Esteiras para todo lado. Todo mundo correndo pela esteira. Eu. Minhas malas. Julien nos ajudando com as malas e com o caminho. Nunca foi tão protagonista de um filme quanto hoje. As câmeras pegavam em vários ângulos, focavam em pessoas, momentos, tinha a trilha composta por músicos que tocavam dentro do metrô. Caos. Brilho. Eu.
Um mundo gigante em uma estação. Pausa. Respira o ar gelado e segue.
Dentro desse mundo-estação uma muçulmana ajoelhada com véu parecendo que rezava e as mãos estendidas pedindo algo (espero que ela estivesse pedindo Paz). As fichas caem um pouco. Não, aquele lugar não pode ser o Brasil. Nem passa perto. Andamos por uma espécie de becos dentro do próprio metrô. Escada rolante estragada. Carrega a mala. A vermelha. A tal.
Achamos enfim a linha 11. Que nos levaria para o destino de chegada o apartamento do Zéfere**.

Depois dessa verdadeira aventura pelo metrô de Paris, chegamos enfim na estação e chegamos no apto.

Com Julien fomos falando uma mistura de francês e português (já que ele acabou de passar 1 ano e meio no Brasil). O áudio do metrô foi exatamente a mesma coisa dos áudios dos livros didáticos, rs. Tudo entendido, ponto pra gente.

Perto da Rue de Beleville estamos, nessa rua nasceu Edith Piaf. Jantamos, voltamos pra casa, eu tomei banho e agora cá estou. Com fome (já passou um tempo que jantamos). E vou sair para comer daqui a pouco.

Mas antes de terminar: as descobertas. Bilhetes, recados, DVD's espalhados pela mala. As lágrimas não deixaram de escorrer ao ler os bilhetes e assistir os depoimentos gravados em minha homenagem. Saudade. Alegria. O coração saltando pra fora. Ah, literalmente... os primeiros momentos em Paris, ainda no aeroporto, foram de uma espécie de ataque cardíaco. Fiquei até meio tenso. Mas estava tudo bem. Se o coração reconheceu esse lugar como especial já no primeiro momento eu só saberei daqui um tempo, mas que ele bateu forte e muito forte assim que chegou nessas terras, é verdade...

Tentarei relatar casos, experiências, momentos, saudades, lembranças, e afins... às vezes mais para mim do que para os caros leitores que podem se aventurar nessa leitura. Mas, aos que entrarem no barco que sejam bem-vindos aos meus olhos sobre Paris. Olhos saltantes, brilhantes e encantados com a oportunidade de estar aqui...

Obrigado a todos que me ajudaram a estar aqui hoje. Todos. Principalmente os que acompanham os passos desde os 22 anos, 9 meses e 4 dias... momento em que vim ao mundo para alguma coisa que ainda vou descobrir o que é... as indicações vão aparecendo aos poucos...

que seja doce... que seja puro... que seja em paz...

A fome me chama. Agora são 23:26h.***



*Verbo no plural pois estávamos eu e o Pedro (estudante de Ciências Sociais da UFMG).
** Brasileiro, poeta e pessoa do bem que foi muito legal e importante pra gente.
*** Os erros de português podem ocorrer e não vou me esforçar tanto para ver se está tudo certo. Nesse relato o conteúdo terá preferência sobre a excelência linguística. Infelizmente, ainda não sou capaz de juntar as duas coisas... ainda...