“Claro. Estarei lá.”
Ela chega, lê o bilhete e deixa pra ele escrito no dia seguinte:
“É hoje. Às 21h te espero.”
O rapazinho ficou meio nervoso. Intrigado. Fariam um plano? A vizinha já estava com vontade de fazer isso há muito tempo para convidá-lo para a casa dela para fazer uma armação logo? Ela era sozinha demais, depressiva demais e queria companhia? Ela tinha segundas intenções? Ela iria preparar alguma coisa para comer ou não? Ela estaria arrumada ou com roupa de ficar em casa? Ela estaria como? E o cabelo? E eu? (Indagou ele.) Como estarei? Com que roupa? Como alguma coisa antes de ir? Vou de calça jeans? De repente ele olha no relógio: 20:55h. Estava na hora.
Tranca sua casa com chave, pega as escadas e sobe. Chega no andar e o elevador abre. Marie chegava. Eles se olham. Ela olha no relógio rapidamente e sai. Ele vai atrás entrando no andar meio sem graça. Ela pára. Abre a porta. Olha pra trás e diz:
“Vem!”.
Ele entra. Ela entra. Ela fecha a porta com chave. Ele fica no meio (bem no meio) do apartamento sem saber o que fazer. Ela tinha compras. Ele quis ajudar mas eram duas sacolas e ninguém precisa de ajuda com duas sacolas. Ele não consegue ajudar. Ela está em silêncio. Ela diz meio esbaforida: _Senta! Ele senta no sofá róseo. Ele diz: “Te atrapalho?”
_Imagina! Fui eu que marquei essa hora.
_ Pois é. Mas se você quiser eu posso voltar mais tarde.
_ Não precisa, bobagem. Sem problemas. É que eu costumo chegar sempre mais tarde e o metrô estava um pouco cheio.
_ É normal nessa hora.
_ É, eu sei.
_ Então?
_ É.
_ É.
_ Ah, o acordeon... É isso que você quer olhar, não é?!
_É.
_ Olha ele é bem chato. Se a gente falar com ele é capaz de ele tocar mais só pra irritar. Ele um francês daqueles que você vê em filme. Mas daqui a pouco você acostuma. Não se preocupa. Eles têm essas manias. Daqui a pouco muda de mania e fica tudo bem.
_É. Mas... é...
_ Você aceita um vinho? Tive um dia pesado hoje, sabe? Com essa história de abertura de contas para estrangeiro nesse início de mês não paro um minuto.
_ (Sorriso seco. Concorda com a cabeça quando ela mostra a taça com vinho.)
_Você é estrangeiro, não é?! Caio. É assim que fala?
_ É. É. Brasileiro.
_ Sempre quis conhecer o Brasil.
_Verdade?
_ Verdade. Um brinde.
_Santé.
_ Santé.
_ Você não se importou de eu ter te chamado pra vir aqui, né?! Ah. Gosto de conhecer as pessoas que moram no andar de baixo. Por exemplo, não conheço seu vizinho. Pode ser que ele seja sozinho e poderia estar aqui agora com a gente se fóssemos amigos.
_É.
_ Ah eu falo muito, né?! Você conhece seu vizinho?
_ Só de vista.
_ Eu também. Engraçadinho ele, né?! Parece que sempre quer saber das nossas vidas. Acho que ele daria tudo pra saber da nossa conversa. Certamente ele observou que você subiu e está aqui.
Paremos no momento em que eles falam de mim. Observem como eles falam de mim e as considerações que fazem ao meu respeito, pois isso é tudo que vocês saberão...
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